Alex Esteves da Rocha Sousa
O Pentecostalismo Histórico, Clássico ou Tradicional, também conhecido como "Primeira Onda do Pentecostalismo" (PAUL FRESTON), é, segundo estudiosos, o segmento pentecostal formado pelas igrejas Congregação Cristã no Brasil (1910) e Assembleia de Deus (1911), as quais são fruto direto do Movimento Pentecostal (1906), ocorrido nos Estados Unidos.
A Congregação Cristã no Brasil foi estabelecida pelo italiano Luigi Francescon, que, em razão da naturalização americana, passou a se chamar Louis Francescon. Essa igreja foi criada em São Paulo, cresceu muito, mas até hoje adota uma postura tendente ao sectarismo, com uma interpretação literal das Escrituras e distanciamento em relação à comunidade evangélica e à inserção social e política, com um discurso exclusivista. Também se caracteriza por forte apego aos costumes de certa moral social, uso do véu - daí ser chamada de "igreja do véu" -, ósculo santo, não ordenação de pastores (substituídos por "anciãos"), pregação contra os dízimos e ausência de evangelização pública. É, curiosamente, uma igreja adepta da doutrina da predestinação semelhantemente aos calvinistas, mas sem a sofisticação teológico-doutrinária destes, mesmo porque é avessa ao estudo teológico.
A Assembleia de Deus foi estabelecida pelos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, ambos impactados pelo Movimento Pentecostal nos Estados Unidos, onde residiam na época. Crendo na doutrina do batismo no Espírito Santo evidenciado por línguas (glossolalia), aqueles dois homens vieram ao Brasil orientados por uma profecia, que lhes indicou o Estado do Pará como campo missionário. A partir de Belém/PA, o trabalho ganhou todas as regiões do país, tornando essa a maior denominação evangélica no Brasil.
Basicamente, o Pentecostalismo Histórico se caracteriza pela ênfase na doutrina do batismo no Espírito Santo com a evidência física inicial do falar em línguas. Essa é a marca histórica desse movimento. Em sua origem, a mensagem pentecostal estava intimamente vinculada à pregação da iminente volta de Cristo, entendendo os pioneiros - tanto os dos Estados Unidos como os do Brasil - que a igreja do arrebatamento ou da Última Hora seria cheia de dons espirituais, uma igreja fiel como a de Filadélfia, em Apocalipse. Outros aspectos importantes eram o Pré-Milenismo Dispensacionalista (aquele da Bíblia Scofield, de 1909); o fundamentalismo, como segmento cristão protestante que combatia o Liberalismo Teológico; destaque para um padrão de usos e costumes como sinal de santidade; e certo dualismo entre a fé e as coisas "do mundo", o que provocou, por muito tempo - e, ainda, em muitos lugares - dificuldades quanto aos estudos, à formação teológica, à intelectualidade, à cultura, à atividade política, às artes.
Há forte ligação entre o Pentecostalismo Histórico e o Movimento Holiness, sendo ambos herdeiros do Wesleyanismo, assim como o Metodismo. Se o Movimento Holiness (Movimento de Santidade) e os metodistas destacavam o conceito de santidade e perfeição cristã como "segunda bênção", os pentecostais passaram a falar no batismo no Espírito Santo como essa segunda bênção, entendendo-o como revestimento de poder. Todos esses - de certa forma - frutos do Wesleyanismo tinham em comum a busca de piedade pessoal, espiritualidade mais viva, ativismo do crente, oração fervorosa, experiências com Deus, valorização das emoções e pregação evangelística.
Sem dúvida, é importante lembrar que tanto os pentecostais como os metodistas e os holiness são cristãos, protestantes e evangélicos, e que há não apenas uma linha histórica entre tais grupamentos e o Cristianismo Protestante e Evangélico, mas uma linha credal, já que todos creem nas verdades fundamentais da Fé Cristã, defendem os Cinco Solas (da Reforma Protestante), são críticos do fetichismo e do comércio da fé, e vêm de uma herança bibliocêntrica, cristocêntrica, ativista e conversionista.
Doutrinariamente, os pentecostais históricos, em especial, tendem a ser arminianos e dispensacionalistas, o que, além de sua doutrina pneumatológica, os distancia dos reformados (calvinistas). Entretanto, é de se entender que tais questões não afastam esses grupos de maneira nenhuma naquilo que é fundamental, a saber, a salvação exclusivamente na Pessoa do SENHOR Jesus Cristo, pela graça, mediante a fé.
Este autor é pentecostal histórico, membro da Assembleia de Deus, e entende ser de todo útil - e mesmo necessário - que aprofundemos nossa cultura pentecostal, lendo sobre nossa história e herança, conhecendo nomes, datas, conceitos, doutrinas, valores, autores de referência, confissões de fé, a fim de que tenhamos um repertório amplo e consistente sobre nossa identidade.
Ademais, é importante distinguir os pontos de doutrina em que eventualmente carecemos de maior conhecimento e debate, além de práticas heterodoxas que infelizmente insistem em permanecer entre nós, assumindo, por vezes, a dianteira no que toca ao estereótipo pentecostal.
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Precisamos ao menos trabalhar por responder a tais perguntas. Se somos, de fato, pentecostais históricos, o que é o Pentecostalismo Histórico?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA Paz do Senhor Irmao Alex , descobri seu Blog hoje, sou da CCB e gostei bastante de seu artigo em que vc desmentia as calunias que Cessacionistas fazem ao querer ligar o Petecostalismo com a heregia montanista.
ResponderExcluirEm relacao a este artigo, eu achei muito interressante, só acho que vc se equivocou um pouquinho ao dizer que a Congregação Cristã é avessa aos estudos teologicos. Nao é bem assim, o que ocorre é lá os estudos nao sao vistos como necessarios, porém , nao proibido ler livros e estudar Teologia, conheco muitos irmaos com uma boa bases de estudos biblicos (como é o caso do irmao do Blog "Pilulas Cristas: https://atos.wordpress.com/). De qualquer forma espero que vc continue a escrever mais artigos seu conteudo até agora tem sido muito construtivo ^^